terça-feira, 19 de abril de 2011

O Silêncio da Escuridão

Finalmente, resolvi postar um texto de minha autoria. Este é o meu preferido, o qual deu me deu inspiração para criar este espaço...



         Constance era uma jovem muito bonita, pequenina de longos cabelos louros e cacheados como o dos anjos. Filha de humildes camponeses e prometida à um jovem ferreiro do vilarejo onde vivia. A menina acreditava ser o rapaz o grande amor de sua vida e passava os dias a esperar pelo dia do seu casamento. Preparava seu enxoval com todo cuidado e carinho, tecia e bordava como se fossem peças destinadas a uma rainha.Esta era sua vida. Ajudar sua velha mãe nos afazeres da casa e sonhar. Sonhar com o dia em que seu amado chegasse do trabalho, e ela o estivesse esperando com roupas limpas para vestir, pão e vinho sobre a mesa, o fogo da lareira aquecendo a sala onde sentariam os dois a conversar e planejar juntos o futuro.
       Certo dia, Constance resolveu sair para colher algumas ervas para tingir os tecidos e flores para perfumar a casa. A jovem, distraída pensando na vida, fazendo planos caminhava, caminhava sem olhar por onde, perdida em seus devaneios acabou perdendo-se do seu caminho. Quando o sol começou a se pôr que ela percebeu que algo estava errado. Quanto mais ela tentava se localizar, mais adentrava na floresta. O sol se escondera por completo, a lua não aparecera e Constance sentia um aperto no peito, um frio que percorria todo o seu corpo. O medo invadia-lhe a alma. A floresta escura, fria, silenciosa criava imagens aterrorizantes aos olhos da menina que não conseguia conter as lágrimas de terror.
        Resolveu que enfrentaria seu medo. A longos passos, seus pés descalços desbravavam a floresta afim de encontrar um lugar seguro onde pudesse se abrigar até amanhecer, para que com a luz do dia conseguisse talvez buscar o caminho de volta para casa. Cansada de tanto caminhar, com frio, com fome encostou-se em uma árvore encolheu-se e adormeceu. De repente, sentiu como se algo a aquecesse, era aconchegante como sua cama, pensou que tudo não passara de um pesadelo, então abriu os olhos e percebeu que ainda estava na floresta, porém, havia alguém ali... Assustada, não pode falar,muito menos mover-se. Notou que sobre ela, havia uma capa, dessas como dos cavaleiros de um linho grosso, escuro, pesado, mas com um perfume instigante.Uma mistura amadeirada com um fundo levemente adocicado. Parado a sua frente um rapaz, não aparentava ser muito mais velho que seu amado, mais baixo, não parecia forte a ponto de fazer algum mal, com cabelos negros, pele tão branca quanto a neve. Não conseguia ver seus olhos, mas percebeu um sorriso um tanto instigante, curioso.
       O rapaz simplesmente estendeu a mão à ela,e a guiou por entre as árvores. Ela tentava resistir, mas ele parecia ter jogado algum feitiço nela. Sua mente dizia para não seguir o estranho, mas seus pés não obedeciam. Ela tentou mas parecia estar aprisionada dentro do seu próprio corpo. Ela gritava, implorava por socorro dentro se si, mas sua voz insistia em calar. Lutou contra ela mesma, até cansar e ceder. Algo estranho começou a acontecer, não conseguia tirar os olhos do rapaz, que a fitava de um jeito carinhoso. Esquecia pouco a pouco da sua vida, das flores, dos pais, do vilarejo, do amado. O mundo era aquela floresta escura, ela e o desconhecido.
     Entraram então numa pequena cabana, velha, onde havia uma lareira esquentando aquele pequeno ambiente. Tudo parecia preparado para uma ocasião especial. Sobre a mesa, o mais fino vinho, doces, flores e velas. Ele estava a sua espera. A tratou como uma rainha. Ela então ia caindo na armadilha. Todos já estavam desesperados à sua procura, já não sabiam mais o que fazer. Seus pais e seu amado choravam inconsolados com o seu sumisso. Aquela noite parecia não ter mais fim. Lá fora,só se via a sobra das árvores, e agora além da escuridão uma tempestade terrível, com raios e trovões. Tudo aquilo era muito estranho, o que normalmente a assustaria estava a deixando mais tranquila.
    Não trocaram uma palavra se quer, no momento em que ela pode olhar nos olhos dele, conseguiu ler e interpretar o que se passava. Ela esquecera o resto todo. Aquela era sua vida agora. O estranho. Ele a tratava como se fosse uma boneca de porcelana, como se fosse quebrar, a enchia de carinho e fazia todas as suas vontades. Ela já não gritava mais por dentro. Constance se calou. Simplesmente se deixou levar pelo feitiço do desconhecido. Ele encheu uma taça daquele vinho e entregou a ela dizendo - beba minha querida, beba. - Ela, com as mão trêmulas pegou a taça e mesmo sem querer, como se por hipnóse, bebeu.
Ficaram ali então, durante toda aquela noite tempestuosa como se o mundo fosse apenas os dois, como se fossem um único ser.
    Constance abriu os olhos, assustada ouvindo o canto dos pássaros e o barulho dos outros animais. Era como se fosse dia, mas a escuridão predominava. Deu-se de conta então que estava sozinha. Não havia cabana, nem a capa que a aqueceu na noite anterior, nem vinho, muito menos o estranho. Sentiu um enorme vazio no peito, como se ele houvesse levado consigo o seu coração. Aquela dor a atormentava, a fazia delirar. Levantou-se e começou a vagar, sem rumo. De início, procurava seu querido desconhecido, depois quando percebeu que nunca mais o encontraria denovo desistiu. Desistiu de retornar para casa, desistiu de sorrir, desistiu de viver. De agora em diante seria só ela e o seu vazio.Ela e o nada. Ele havia roubado a sua alma.
    Dias e noites passaram, seus olhos já não brilhavam, as lágrimas secaram, sua pele tornara-se fria, pálida, suas olheiras aprofundavam seu rosto... A dor insistia em perseguí-la onde quer que ela fosse. Certa noite, viu uma luz, pensou ser seu amado desconhecido, chegou a uma clareira na esperança de ver a cabana preparada a sua espera e deparou-se somente com a luz da lua. Somente isso. Seu peito sangrava e a dor a consumia. Decidiu que acabaria com aquilo de uma vez por todas. De que adianta um corpo sem alma? Correu até a beira de um precipício onde não podia enchegar o fim. Era apenas escuridão. Olhou para o céu, e na fagulha de fé que lhe restava pediu aos céus que lhe tirasse a vida. Lentamente se aproximou da beira do penhasco.O vento lhe cortava o rosto. Abriu os braços e resolveu por fim em todo aquele sofrimento.
-Não!- Ouviu uma voz atrás de si. Sorriu. Imaginou ser seu amado desconhecido. Voltou-se para a voz e deparou-se com alguém diferente. Um jovem de vestes claras, pele tão branca quanto a dela depois de tantos dias sem ver o sol, alto, lindos olhos claros e brilhantes,cabelos longos de um castanho cor de mel. Um sorriso confortador. Estava confusa. Não seu noivo, nem mesmo seu pai. O estranho tampouco. Seria um anjo? - Durma minha pequena,durma - Foi a única coisa que ouviu daquele que ela chamou de anjo. Ele a pegou nos braços, como se fosse uma criança já adormecida. Não viu mais absolutamente nada.
  Dormira um sono tão profundo e sem sonhos, que acreditava ter adormecido nos braços do anjo da morte. De repente, abriu os olhos. Muita luz. Estava em sua casa, em seu quarto, seus pais, amigos e familiares esperavam o momento em que ela acordasse. - Graças à Deus! - Disse seu pai enquanto a mãe se desmanchava em lágrimas. Seu noivo, já havia desistido da luta, fora um covarde, não resistiu ao tempo e imaginou tê-la perdido mesmo para a morte. Dias após seu sumisso,ele havia pegado seu cavalo e partira para terras distantes.Todos queriam saber o que havia acontecido, Constance só sabia perguntar - onde está? onde? me digam? - Ninguém entendia. Ele perguntara do Anjo. Antes nomeado de Anjo da Morte, agora descobrira que era o Anjo do Renascimento.
  Constance passou dias em sua cama, muito debilitada. Esquecera do estranho, não sentira se quer o perfume dele que a atormentara pelos dias em que vagou pela floresta. Só lembrava do Anjo, do brilho dos seu olhos e do sorriso de menino travesso. Aos poucos ela foi se recuperando, mas não por completo. Volta e meia acorda de um pesadelo que a persegue. O Estranho lutando contra o Anjo. Eles são muito parecidos em alguns aspectos, e completamente diferentes em outro. O que a deixa mais confusa. Ela tenta não pensar nisso, mas não tem jeito. Essa cicatriz ela vai levar para o resto da sua vida. Ela não sabe, se sua alma foi roubada por completo ou se o Anjo conseguiu recuperar parte. Para saber ela teria que reencontrar o Anjo. Por enquanto, ela passa seus dias a fiar com sua mãe. Pouco fala e não sai de casa. Muitos acham que ela enlouqueceu. Na verdade, nem ela mesma sabe o que aconteceu. Só guarda dentro de si, uma vontade de voltar à vida, se é que isto será possível um dia. 

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